área de agricultor familiar será transformada com novos plantios de açaí e andiroba
16/07/2025 21h40 - Atualizada em 31/07/2025 12h41 Por Aline Miranda
Em caráter pioneiro, o escritório local da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado do Pará (Emater) em Belém, com o apoio do Núcleo de Geotecnologia, Diagnóstico e Rastreabilidade (NGDR/Labgeo) do Órgão, está concluindo o Plano de Recuperação de Áreas Degradadas e Alteradas (Prada) de uma propriedade no distrito de Mosqueiro.
A iniciativa consta dos compromissos firmados pela Emater no contexto da 30ª Conferência Mundial sobre Mudanças Climáticas da Organização das Nações Unidas (Cop-30), a se realizar na referida capital, em novembro: a meta é entregar pelo menos 600 Pradas ainda este ano, em parceria com a Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Sustentabilidade (Semas).
O documento Ater (Assistência Técnica e Extensão Rural) Pública para Justiça Climática na Amazônia para a Cop-30 foi lançado pela Emater em março, em alinhamento com o Plano Estadual Amazônia Agora (PEAA) e o Programa de Atuação Integrada para Territórios Sustentáveis (PTS).
Prada
Com o uso de geotecnologias avançadas, como gps (global positioning system) geodésico, um sistema de posicionamento preciso sob imagens de satélite, e estudos de viabilidade de mercado, entre outras etapas metodológicas, a equipe de campo extensionista do Governo do Pará propõe ao agricultor Evaldo Samuel Silva, de 67 anos, o reflorestamento de um hectare e meio do Recanto do Silva, na comunidade Mari-Mari II: a estratégia é a implantação de sistema agroflorestal (saf) com açaí, banana, cacau e espécies madeireiras, tal qual andiroba.
A área em questão, considerada “antropizada”, ou seja, com modificação significativa pela ação humana, conforme conceitos científicos, porque passou pela tradição anterior de derrubada e queimada, também deve abrigar novos cultivos de abóbora e melancia.
A fim de estruturar o processo, a Emater associou um projeto de crédito rural da linha Floresta do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf), no valor de R$ 93 mil, ante o Banco da Amazônia (Basa), ora em fase de tramitação.
O engenheiro agrônomo do escritório local da Emater em Belém Cícero Sobrinho explica que o processo é lento, porém sólido: “Doze anos de intervenção e monitoramento e reintrodução de 17 espécies. O agricultor já iniciou o plantio. Com a análise e aprovação do Prada pela Semas, gera-se um Termo de Compromisso. Futuramente, assim, o agricultor diversificará a área de acordo com o cronograma. Em seis meses a um ano, será possível colheita comercial e para consumo da família, considerando-se todas as espécies”, explica.
Andrio Cohen, engenheiro florestal especialista em Georreferenciamento e Assessoramento Remoto, chefe interino do Labgeo da Emater, aponta que a disponibilidade das tecnologias mais atuais pelo Governo do Estado à agricultura familiar paraense permite resultados com exatidão: “A Emater capacita de forma contínua as equipes que atuam in loco nas propriedades. É o caso de Belém. Lidamos com imagens aéreas feitas por drones, imagens de satélites, e então criamos portfólios e mosaicos que demarcam, registram, situam”, exemplifica.
Recanto do Silva
Os seis hectares do Recanto do Silva abrigam mais de três mil galinhas-caipiras: “E incontável açaí, tangerina, laranja, pupunha, banana, cacau. Mas o forte é açaí e ovo-caipira”, descreve o agricultor, que mora ali com a esposa, Roziani, de 37 anos, e o filho do casal, Marcos Vitor, de 20 anos.
Conhecido como “Evaldo Garimpeiro”, por conta de quase duas décadas de trabalho em garimpos no Pará e no Maranhão, Evaldo reconhece-se de “destino traçado no mato”, haja vista, segundo ele, ter nascido pelas mãos de uma parteira dentro das Ruínas do Murutucu, território administrado pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), entidade da qual o pai era guarda-florestal.
Silva diz que, sem a Emater, “não seria nada e não teria nada” e que “sem a Emater, eu sobreviveria: com a Emater, eu vivo, e vivo feliz”: “Tenho uma história antiga com a Emater: é de confiança, amizade. A Emater acreditou em mim, me deu oportunidades, abriu caminhos”, conta.
O agricultor reforça que a transição das práticas é uma realidade: “Hoje estamos aqui, juntos, em mais um momento de troca de conhecimento, de acesso a política pública, de aplicação de tecnologia: existe alternativa no lugar de derrubar e queimar e me sinto gratificado de ser auxiliado pra concretizar e restaurar a natureza, porque isso valoriza o produto e a propriedade”, diz.