Metodologia Diálogos Rurais e uso de aplicativos de comunicação instantânea permitem às equipes da Emater o acompanhamento seguro e contínuo dos projetos
17/09/2020 16h51 - Atualizada em 29/04/2025 20h15 Por Aline Miranda
Em março de 2020, a pandemia da covid-19 assolou o mundo inteiro como uma imensa surpresa ruim.
De um dia para o outro, as pessoas foram obrigadas a se isolar e até a parar de trabalhar.
Uma preocupação que apareceu junto com o risco da doença foi sobre como a socioeconomia conseguiria suportar tanta pausa e tanta barreira. Os principais prejudicados seriam certamente os trabalhadores de evidente vulnerabilidade: autônomos, em zonas afastadas e com renda dependente de fatores como subsídios, escoamento e consumo.
Os agricultores familiares do Pará, entretanto, em nenhum momento padeceram desamparados pelo poder público, porque a Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado do Pará (Emater) de imediato desenvolveu estratégias para garantir o mínimo de continuidade de atendimento, sem prejuízo relevante às cadeias produtivas de alimentos e ao acesso a políticas de incentivo.
Em Breves, no Marajó, por exemplo, arquipélago que figura entre os piores Índices de Desenvolvimento Humano (IDH) da América Latina, o escritório local iniciou uma metodologia diferenciada, pela qual as equipes de especialistas em campo permanecem no contato direto com os agricultores, minimizando riscos de transmissão do coronavírus e qualificando os projetos e ações governamentais.
A metodologia Diálogos Rurais é uma adaptação de práticas comuns no cotidiano extensionista, conhecidas como “rodadas de conversação”. Fora a obrigação de uso de máscara e álcool em gel, o novo contexto é de encontros pontuais, limitados a dez pessoas, a fim de se evitar aglomeração, e com temas mais focados, para otimização de tempo.
A crise sanitária sem precedentes também acabou antecipando na zona rural, de maneira forçosa, a incorporação de tecnologias que mais do que facilitam os serviços, sobretudo em localidades com distância significativa em relação à sede do município.
A Emater criou grupos em aplicativos de comunicação para que o andamento dos projetos seja atualizado em caráter instantâneo, dispensando-se a necessidade de deslocamento, o qual muitas vezes ultrapassa as dez horas seguidas de barco ou estrada.
“Hoje posso solicitar na mesma hora um documento faltante para o agricultor se inserir em determinada política pública. O agricultor tira foto, manda e imprimimos. Ou informar quando o dinheiro do crédito já caiu na conta, impedindo que o agricultor venha à cidade só para saber. Até há pouco, era preciso que um de nós, da parte de lá ou da parte de cá, viajasse quilômetros”, ilustra o chefe do escritório local da Emater, o engenheiro agrônomo Marinaldo Gemaque.
Com internet, os agricultores puderam, ainda, instituir sistema de delivery, para encomendas.
Fluidez
Se antes os técnicos da Emater costumavam se reunir de uma vez com uma média de 50 a 100 pessoas em cada comunidade, agora agrupam as famílias por critérios de afinidade, interesses e atividades.
Ao longo dos últimos seis meses, a Emater promove um Diálogo Rural por semana, com planejamento específico. Já foram visitadas mais de dez comunidades, para tratar apenas com os envolvidos em assuntos próprios, como galinha caipira, crédito do Pronaf Floresta e comercialização de hortaliças.
“Observamos que, com menos presenças e pauta direcionada, os encontros tornaram-se mais úteis e fecundos, longe de qualquer dispersão”, conclui Gemaque.
Os Diálogos das próximas semanas serão nas comunidades Ilha Corre do Jacarezinho, Ilha Pereira, no rio Manteiga e São Francisco do Anará.