Incentivo da Emater valoriza o extrativismo de açaí na Grande Belém

Pará é o maior produtor de açaí do Brasil com geração de trabalho para cerca de 150 mil paraenses. Emater garante acesso a linhas de crédito para impulsionar cultivo e assistência técnica que assegura aumento da produtividade.

04/05/2023 12h50 - Atualizada em 23/04/2024 04h02
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Foto: Divulgação

Na paisagem urbana das cidades do Pará, as bandeiras vermelhas agitam as esquinas das ruas anunciando o preço dos litros e a espessura do açaí, produto que não pode faltar na mesa dos paraenses. Divididas em semestres, as estações de verão e "inverno amazônico" coincidem com a safra e a entressafra do fruto, uma das principais cadeias produtivas do estado. 

Conforme dados da Secretaria de Desenvolvimento Agropecuário e da Pesca (Sedap), o Pará é o maior produtor de açaí do Brasil. Por ano, o volume é de mais de um milhão e 300 mil toneladas, originário de 200 mil hectares de área plantada ou nativa, e a receita gerada aproxima-se de R$ 800 milhões, com geração de trabalho para cerca de 150 mil paraenses. 

Na casa de Esther Melo, de 3 anos, o açaí não pode faltar todos os dias. Com seletividade alimentar, a criança adotou o costume de uma tigela com 200 a 250 ml, temperada com um pouco de açúcar e acompanhada de farinha de tapioca. Os pais, Jonas Pereira, 49 anos, e Nilsilene Barros, 34 anos, ambos guardas-portuários, mantêm o freezer sempre abastecido comprando do mesmo lugar, por questão de confiança sanitária: um ponto próximo de casa, na Cidade Nova I, em Ananindeua, na Grande Belém.

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“Em relação à Esther, é sagrado, e a gente também toma algumas vezes por semana. É de suma importância pro nosso cotidiano; me preocupo muito com a qualidade do produto, mas de verdade nunca me preocupei de onde vem, em qual lugar é colhido e sobre quem está envolvido no processo”, conta Nilsilene. 

Assim como na família Pereira Barros, muita gente desconhece que existe cultivo de açaí na própria vizinhança, em especial nas ilhas dos municípios da Região Metropolitana de Belém (RMB). Em Ananindeua, por exemplo, o escritório da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado do Pará (Emater) atende, de forma direta e indireta, mais de 200 famílias envolvidas com extrativismo e beneficiamento. 

“Saber disso me deixa feliz. Acho que, quanto de mais perto vier, mais fresquinho o açaí é submetido a menos manipulação, diminui o preço e o transporte e a conservação tornam-se mais seguros”, comemora Nilsilene. 

Crédito Rural - No trajeto de mais alguns quilômetros, em Santa Bárbara, a Vila Maurícia é o lugar da história do agricultor José Maria Silva, 46 anos, da esposa Dalila, 37 anos, e dos três filhos do casal: Jobson, 21 anos, Laísla, 19 anos, e Joabe, 7 anos. 

Por meio de projeto da Emater e de posse do Cadastro Ambiental Rural (CAR), emitido pelo órgão, a família, atendida há mais de uma década, acaba de receber a primeira parcela, no valor de R$ 11 mil, de um crédito no valor de mais de R$ 24 mil, para manejar seis hectares de açaizal nativo no sítio Pocidônio Rodrigues , às margens do rio Juacaca, um braço do canal Furo das Marinhas. 

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Da sede do município à propriedade, são vinte minutos de viagem de rabeta. Já na Rua Principal em Santa Bárbara, o filho mais velho administra um ponto de comercialização direta do produto batido: o Açaí do Jobson. 

“O crédito rural é recurso bem-vindo que só. Repito o ditado pra relatar aqui que a Emater meteu o pé na estrada, arregaçou a camisa e enfrentou ponte, maré e água pra se fazer presente e entender nossas necessidades”, diz o patriarca.  

O contrato da linha Floresta do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf) foi assinado pela nova plataforma do Banco da Amazônia (Basa). 

De acordo com o técnico responsável, o engenheiro florestal Fabrício Marinho, especialista em Gestão Ambiental, a estimativa é que, em cerca de quatro anos, com a intervenção adequada, a produtividade dobre e o período de colheita, alongue-se em meses, em uma jornada de aumento progressivo. Ele detalha que o manejo possibilita a manutenção da biodiversidade e facilita o mecanismo de coleta, poupando o extrativista de um esforço físico exaustivo e reduzindo o risco de acidentes. 

“A média de produtividade de um hectare de açaizal nativo sem qualquer manejo é de uma tonelada por ano. Com a intervenção, com todas as técnicas que orientamos, a tendência é multiplicar por dois e até triplicar: atingir duas, três toneladas; quando tudo é executado com excelência, chega a quatro, no manejo ideal chega a seis. A porcentagem de aumento é gradual, ao longo da aplicação do manejo. A limpeza da área e os tratos silviculturais são repetidos uma vez por ano. No primeiro ano, o produtor já consegue perceber diferença”, explica. 

Planos - Na safra, ainda sem manejo, a produção do Sítio Rio Juacaca é de 800 quilos por mês e a venda no Açaí do Jobson alcança 70 litros por dia. 

Com mais açaí, Silva planeja estender os pontos para os municípios adjacentes de Benevides e Pau D’Arco e negociar melhor o fornecimento de caroços para fábricas da região.

“Estamos tendo a oportunidade de nos empresariarmos. O incentivo da Emater nos ajuda a respaldar um futuro de mais qualidade de vida”, comenta. 

Texto: Aline Miranda/Ascom Emater