Lideranças e políticas públicas avançam força feminina no meio rural, comemora Emater

Com um atendimento anual de cerca de 50 mil agricultoras em todos os 144 municípios paraenses e um funcionalismo feminino que supera os 30% do todo, mesmo dentro de um contexto de cargos e funções historicamente masculinos, a Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado do Pará (Emater) comemora este 8 de Março, Dia Internacional da Mulher, com cada vez mais lideranças internas, na Instituição, e no campo, bem como na tomada de projetos, programas e políticas públicas que fortalecem a conscientização e equidade.

08/03/2022 13h08 - Atualizada em 19/06/2025 03h05
Por Aline Miranda

Lideranças e políticas públicas avançam força feminina no meio rural, comemora Emater

Com um atendimento anual de cerca de 50 mil agricultoras em todos os 144 municípios paraenses e um funcionalismo feminino que supera os 30% do todo, mesmo dentro de um contexto de cargos e funções historicamente masculinos, a Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado do Pará (Emater) comemora este 8 de Março, Dia Internacional da Mulher, com cada vez mais lideranças internas, na Instituição, e no campo, bem como na tomada de projetos, programas e políticas públicas que fortalecem a conscientização e equidade. 


“É um trabalho de dia a dia e, ao mesmo tempo, de 56 anos. A assistência técnica e extensão rural oficiais do Governo do Pará significam resultados de curto, médio e longo prazos, que constroem e respondem a necessidades não só imediatas, mas de reparação cidadã de vidas inteiras, de comunidades seculares, sob uma diversidade étnica, econômica e sociocultural que merecia o aplauso de um calendário inteiro”, aponta o presidente do Órgão, Rosival Possidônio.

A diversidade compreendida pela atuação da Emater, de norte a sul do Pará, é de mulheres doutoras, mestras, especialistas e técnicas ouvindo e sendo ouvidas por mulheres indígenas, ribeirinhas, colonas, quilombolas e assentadas. 

Juntas

 No cotidiano de 16 anos de Emater, a doutora em Manejo Florestal, engenheira florestal Tangrienne Mener, 45, desbrava a Amazônia, enquanto desbrava caminhos de resistência e preconceito: “Desde a faculdade, o meio rural é patriarcalizado, sim. Cada mulher que resolve pegar em um livro da área, que herda uma enxada e um trator, puxa pra si um tempo incontável de machismo e de idéias equivocadas. Nós somos protagonistas de uma revolução”, afirma. 


Em sua jornada, ela viu a Emater se transformar, com as duas primeiras presidentes mulheres e muitas outras colegas em cargos de chefia: “São exemplos maravilhosos - e a representatividade é um processo maravilhoso. Uma menina que me vê como doutora não vê só uma doutora: vê que é possível uma mulher se tornar engenheira florestal e depois concluir doutorado. Quando houve presidentes mulheres na Emater, eu me senti feliz, porque ali a gente percebe a via da oportunidade para todas”, explica.

No atendimento em campo, Tangrienne conta sobre a receptividade das agricultoras: “É um elo de empatia e de confiança, talvez uma verdadeira sororidade. Você se identifica espelhada e entende dificuldades e potencialidades  próprias”, balanceia.

Lugar Delas 

Uma das atendidas pela equipe da qual Tangrienne faz parte, o escritório local de Ananindeua, na Região Metropolitana de Belém (RMB), é a quilombola Vivia Cardoso, 40, do Território do Abacatal, na Estrada Santana do Aurá. A comunidade matriarcal é formada por 128 famílias: 90% delas chefiadas por mulheres. 


“Nossa tradição quilombola é mulher na liderança. Isso vem da ancestralidade, do sangue. A força da mulher é um combustível imprescindível da nossa mentalidade. Até as mulheres casadas são as chefes-de-família: isso quer dizer que gerenciam o dinheiro, são a palavra final na criação dos filhos, vivem com independência emocional e profissional”, minucia a agricultora. 

Praticante de umbanda, da vertente afrobudígena Nação Muzungue, na qual é conhecida como Yaô (“filha de santo”, no idioma iorubá) “Makínì”, como agricultora trabalha, em família, com açaí, cupuaçu e plantas medicinais, entre outras atividades. 

As plantas medicinais servem também às práticas de sincretismo religioso: “Uma integração de conhecimento popular e contribuições da Emater sobre o cultivo”, aborda. 

Vívia não quer ser uma inspiração “de passagem”: “Nós aqui somos uma força que provamos que podemos ser seguidas. Existe uma frase justa: ‘o melhor exemplo não é o que você fala, é o que você vê’”, poetiza. 

No Abacatal, vejamos, são mulheres à frente de mais de 300 anos de existência e mais de 500 hectares de agricultura familiar, entrecortados pelo igarapé Uriboca. 

Os principais produtos são acerola, açaí, banana, farinha d’água, laranja, maniva, plantas medicinais, pupunha e tucupi, com acompanhamento da Emater há mais de três décadas. 


Texto: Aline Miranda

Fotos: Veloso Jr. e Acervo Pessoal