projeto-piloto da Emater atualiza tecnologias e capacita agricultores
03/01/2022 09h30 - Atualizada em 17/06/2025 16h34 Por
Foto: Divulgação
Qual a sua principal meta de ano-novo? Emagrecer, voltar a estudar, conquistar a casa própria?
A de Antônio José da Costa, 60, morador de Marabá, no sudeste do Pará, é que 2022 chegue com muita doçura. Literalmente.
Adeus Ano Velho/ Feliz Ano Novo
Produtor de mel atendido pelo escritório local da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado do Pará (Emater), o proprietário da Chácara Vista Linda, no assentamento federal Boa Esperança do Burgo, faz planos de que as 22 caixas de criação de abelhas sem ferrão (“mansas”, nas palavras dele) resultem em cerca de 40 litros no total do precioso medicinal tiúba-uruçu.
O mel de tiúba é considerado um produto sofisticado, com propriedades tratadoras de lista infinita, conforme a disposição de transmissão oral de avó para neta e de pai para filho, ad eternum.
“Serve pra tudo - de mal de unha encravada pra dor de coração partido”, brinca, mas falando sério. “Pode anotar aí, moça, porque sou ruim de caneta, só que sou ótimo de informação e de trabalho”, assegura.
Que Tudo se Realize/ No Ano que Vai Nascer
Antônio José da Costa é um dos beneficiários de um projeto-piloto de meliponicultura que a Emater tem deslanchado em Marabá desde 2020.
Com o objetivo de segurança alimentar, de alternativa de renda para a agricultura familiar e de fortalecimento de exploração sustentável dos recursos da floresta, a atuação dos extensionistas tem superado as condições adversas da pandemia da covid e, ainda, enfrentado resistências culturais de uma agricultura familiar desacostumada a técnicas da atividade, como transferência de enxames e aspectos socioambientais.
Em 2021, foram 200 atendimentos relacionados. A Emater estima que pelo menos 600 famílias do município possam ser mobilizadas e capacitadas.
Ao longo dos meses foram instalados sete meliponários em lotes de assentamentos avizinhados: quatro no 26 de Março, um no Boa Esperança do Burgo, um no Grande Vitória e um no Liberdade.
“Meliponários”, no caso, são abrigos de abelhas nativas, construídos com madeira e telha recicladas, com intenção de facilitar o manejo e proteger de intempéries, tais quais chuva e excesso de sol.
“Nossa fase é de organização da produção: prospectar o interesse dos agricultores e o potencial das propriedades, além de, sobretudo, oferecer treinamento contínuo, intensificando parcerias institucionais”, aponta o engenheiro agrônomo Glauco Brito, responsável pela iniciativa.
Muito Dinheiro no Bolso
O preço do litro de mel de tiúba no mercado brasileiro gira em torno de R$ 150, com alavanca maior se ultrapassadas as fronteiras internacionais. O lucro para a família de assentados de Marabá pode subir dos 1000%, com coleta prevista para começar em junho.
A Chácara Vista Linda possui 33 hectares de vista linda.
Ali as 22 caixas de meliponicultura convivem com lavouras de mandioca, plantio de milho, galinhas-caipiras e um pequeno rebanho leiteiro (20 vacas).
É o lar do casal Antônio José e Raimunda Nonata Xavier, 49, e também uma unidade produtiva de agricultura familiar onde as políticas públicas do Governo do Pará vêm fazendo diferença.
“Eu vim do Maranhão jovenzinho [município de Brejo Paraibano] tentar emprego, há muito tinha no peito esta vontade de fazer mel porque é uma raiz lá do meu povo, insistia e não ia muito pra frente porque era tudo no toco, sem ciência mais moderna”, conta o agricultor.
Ele diz que a Emater salvou a idéia, introduzindo atualizações e tecnologias acessíveis, inclusive em termos financeiros.
Saúde Pra Dar e Vender
Os filhos, Jonh Herbet, 25, funcionário de uma mineradora, e Caíque José, 21, militar do Exército, bem como o neto Bernardo, de dois anos, e a nora Jaiane, 25, dona-de-casa, filho e esposa do primogênito, respectivamente, consomem o mel de tiúba sempre.
“Bernardo, então, tem a garrafinha dele. Toma desde os 8 meses, de colherzinha, diluído. É um remédio pra nossa existência inteira”, conta o avô, orgulhoso.
Com o apoio da Emater, Antônio José pretende ajudar a divulgar a biofarmacologia da Amazônia, com o conhecimento popular que não só cura, como aconchega, e expandir a criação de abelhas, chegando a 100 caixas nos próximos tempos, sem tanto prazo definido.
“É a era de sonhar, de interagir com a natureza, de pensar grande e bonito. Isso é acreditar. São meus sinceros votos”, abençoa tudo e todos.
Texto: Aline Miranda.